90 º ANIVERSÁRIO DA MORTE CAMILO PESSANHA (1926 – 2016)

Assinalam-se hoje 90 anos sobre o desaparecimento de Camilo de Almeida Pessanha, expoente do simbolismo português, indissociavelmente ligado a Macau, onde faleceu às 8 horas da manhã do 1 de Março de 1926, na sua residência no nº 75 da Rua da Praia Grande, freguesia da Sé, vítima de tuberculose pulmonar, e onde permanecem os seus restos mortais, no cemitério de S.Miguel Arcanjo.

Elegendo Macau como destino para o seu exílio voluntário no Oriente, Camilo de Almeida Pessanha, chegou a Macau a 10 de Abril de 1894, instalando-se na Hospedaria de Hing-Ki. José Maria de Souza Horta e Costa acabara de tomar posse no seu primeiro mandato como Governador a 24 de Março. A cidade agitava-se – Macau tinha às portas a peste bubónica, vivia-se a ocupação do Laos pela França e o mau estar crescente entre o Japão e a China, que viria a culminar na Guerra Sino-Japonesa.

Criado por despacho no ano anterior, o Liceu de Macau, que inicia nesse ano aqueles que serão os seus 105 anos de vida, recebe Camilo Pessanha como professor de Filosofia Elementar, figurando entre os seus colegas Wenceslau de Moraes, professor de Matemática Elementar e outra grande figura de Macau. Seguem-se, a partir de 1900, outros cargos ligados à sua formação em Direito em Coimbra, onde nasceu em 1867, até 28 de setembro de 1925, momento em que, face à degradação do seu estado e após pedir a exoneração  do cargo de Reitor substituto do Liceu de Macau, se retira por motivo de doença.

Como refere o Prémio Nobel da Literatura em 1990, o mexicano Octávio Paz (1937), poeta, tradutor e diplomata, os poetas não tem biografia, sua obra é a sua biografia e Clepsidra, obra principal da produção literária de Camilo Pessanha, assume-se como uma referência para uma geração, merecendo o apreço de Fernando Pessoa e Sá-Carneiro.

Publicada incialmente em 1920, reeditada e aumentada em 1945, republicada em 1956  e, com outros poemas, em 1969, em Clepsidra o poeta desestrutura a realidade para alcançar uma outra estrutura mais real e verdadeira, quebrando velhas ordens e sistemas. Uma poesia livre, nunca dominada pela rigidez de espartilhos estéticos ou formais, e vivendo a ambiguidade da vida, vivida pela imaginação ao compasso dos novos mundos rítmicos que cria. Como refere João Camilo, A variedade rítmica da poesia de Camilo Pessanha parece traduzir, antes de mais nada, o próprio ritmo da consciência e da sensibilidade.

Falar de Pessanha, para a ensaísta Barbara Spaggiari (1983), ”o único verdadeiro simbolista da Literatura portuguesa e, em absoluto, um dos maiores intérpretes do Simbolismo europeu”, é também falar de um figura central à história de Macau e das relações entre o Oriente e o Ocidente, cuja memória importa preservar.

“Um mestre da poesia universal” para Arnaldo Saraiva (1975), poeta de espírito desconcertante e inconformista, jurista, professor e tradutor sinólogo, nos trinta e dois anos que estanciou em Macau, em profunda intimidade e cumplicidade, Camilo Pessanha embrenhou-se nos estudos e traduções sobre a civilização e a literatura chinesa, apaixonado que foi pela arte chinesa, de que foi um voluntário e paciente colecionador.

Reconhecendo esta importância e o relevo da sua obra, o Instituto Português do Oriente (IPOR), editou em colaboração com o Instituto Cultural da RAEM, a edição bilingue Clepsidra, inserida na colecção «Biblioteca Básica de Autores Portugueses». Dessa colaboração resultou ainda nos seguintes títulos: 70º Aniversário da Primeira Edição da Clepsidra, Homenagem a Camilo Pessanha, Camilo Pessanha o Jurista e o Homem, Camilo Pessanha Prosador e Tradutor e A Imagem e o Verbo Fotobiografia de Camilo Pessanha, títulos que poderão ser adquiridos com 50% desconto durante o mês de Março.

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